Entrevista Revista ABRALE
A Importância do Pet no Tratamento Oncológico

Você sabia que os animais de estimação podem ajudar no tratamento de problemas de saúde, como o câncer por exemplo?
Fui entrevistada pela Tatiane Mota da Revista da ABRALE à respeito do assunto e você pode ver um resumo da matéria aqui! Para ver a matéria na íntegra e saber de outros assuntos relevantes sobre a luta contra o câncer, você pode se cadastrar na Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia). A distribuição da revista (física e online) é gratuita!
Bom, vamos lá!
De modo geral, a história da relação entre homem e animal de forma parecida com a qual conhecemos hoje em dia data do período Neolítico (de 10 mil a.C. a 3 mil a. C.), quando começamos a cultivar a terra e a viver da criação de bois, galinhas e cães, por exemplo. O vínculo entre esses seres passou de caça-predador para o de dependência e, no caso do lobo (ancestral do cão) e do gato, por exemplo, para o de proteção e confiança. Além disso, os animais em diversas culturas já foram (e em algumas ainda são) venerados como representações místicas e divinas dotados de poder, inclusive curativo. Conforme os animais mais fáceis de domesticar se adentravam em nossas residências, eles foram se tornando parte das nossas famílias (e nós das deles), dando abertura para o desenvolvimento de uma relação mais afetiva (Almeida, 2014).
O nosso relacionamento com os animais de estimação é tão antigo, cultural e geracional que perdura até os dias de hoje, mesmo que de forma inconsciente. Penso ser principalmente por esse motivo que não é incomum nos depararmos com discursos como “confio mais em bicho do que em gente”, “meu cachorro/gato é meu filho”, “me sinto muito mais segura quando tem cachorro em casa”.
Claro que nem todo mundo gosta de animais e tem gente que gosta mais de cachorro do que de gato, por exemplo. Essas particularidades ou diferenças acontecem de acordo, dentre outros, com a experiência que cada pessoa teve com esses animais, considerando também os seus círculos familiares e sociais. Me coloco como exemplo! Desde a minha infância tenho um contato muito positivo com cachorros; meus pais e meus tios gostam do animal e possibilitaram que o mesmo vivesse em suas casas; hoje, adulta, a presença do cachorro na minha vida é indispensável! Mas, como eu disse, varia de pessoa a pessoa.
Conforme afirmo na entrevista, os animais vêm auxiliando na nossa recuperação física e mental pelo menos desde o século IV a.C., quando utilizávamos o cavalo para tratamento de insônia, epilepsia, casos de paralisia e melhora de tônus muscular (Almeida, 2014). Hoje em dia, isso é conhecido como Terapia Assistida por Animais (TAA).
A TAA tem como objetivo colocar o animal como parte integrante do processo de cura e melhora dos sintomas do paciente (INATAA, 2018). Para isso, podemos contar com a ajuda de quase qualquer animal! O mais conhecido é o cachorro (mais especificamente, da raça Golden Retriever) e o que vai influenciar significativamente na escolha do animal para o tratamento do paciente é o temperamento e o comportamento do bicho. A "personalidade" dele, por assim dizer. O animal precisa ser dócil, calmo, gostar da interação com pessoas desconhecidas e ser adestrado. Além disso, a escolha do animal depende do paciente, por exemplo: no meu caso, não adiantaria muito se me trouxessem um gato, considerando a minha relação com os cachorros.
Nessa modalidade de tratamento existe uma estrutura definida para cada encontro: o que será feito, o horário e o espaço onde ocorrerá a visita do animal e qual será a meta do tratamento. Existe, porém, uma outra modalidade de tratamento com o auxílio dos animais: a Atividade Assistida por Animais (AAA). Como na TAA, quase qualquer animal saudável (com vacinação em dia e sem doenças infectocontagiosas), e com comportamentos e temperamento adequados, pode ajudar na restauração da saúde e do bem estar do paciente. A diferença é que não existe todo esse planejamento! Há uma programação mínima (qual o local, o horário e o paciente), mas a interação homem-animal é mais casual.
Como apontam Reed, Ferrer e Villegas (2012), tanto a AAA quanto a TAA produzem efeitos muito positivos tanto física quanto psíquica e emocionalmente nos pacientes hospitalizados por doenças crônicas, como o câncer por exemplo (principalmente em crianças e idosos). Os animais ajudam na aceitação do tratamento, na manutenção e recuperação de processos cognitivos (memória, por exemplo), na redução de medo e ansiedade, na redução da pressão sanguínea, no aumento da resposta imunológica, na diminuição do estresse, na focalização da atenção e na socialização, por exemplo.
Mesmo os animais de estimação (que não são treinados para serem terapeutas) podem produzir esses efeitos e consequentemente ajudar no tratamento, inclusive o oncológico. Então no caso de hospitalização/internação hospitalar, é interessante que o paciente ou mesmo os familiares do paciente discutam com os médicos responsáveis pelo tratamento e com o Centro de Controle de Infecções Hospitalares (CCIH) do hospital sobre a possibilidade da visita do bichinho. Ele precisa estar com uma boa saúde e se enquadrar em alguns critérios de controle de zoonoses mas, se for permitido pela instituição e se for de desejo do paciente, o animal de estimação pode sim fazer uma diferença importante no bem estar e na recuperação da saúde do seu tutor antes, durante e depois da hospitalização.
Interessante né? Me conta o que você achou: ariadne_possibom@hotmail.com
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, E. A. Educação, Atividade e Terapia Assistida por Animais: revisão integrativa de produções científicas brasileiras. 2014. 147 p. Dissertação de Mestrado - PUC, São Paulo, 2014. Disponível em: <https://sapientia.pucsp.br/handle/handle/16154>. Acesso em: 07 de maio de 2018.
INATAA. Nosso Trabalho. Disponível em: <http://www.inataa.org.br/?page_id=2837>. Acesso em: 7 de maio de 2018.
REED, R.; FERRER, L.; VILLEGAS, N. Cuidadores Naturais: uma revisão da terapia e atividades assistidas por animais como tratamento complementar de doenças crônicas. Rev. Latino-Am. Enfermagem, vol. 20 (3), maio-jun., 2012. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rlae/v20n3/pt_a25v20n3.pdf>. Acesso em: 07 de maio de 2018.